Vais Desistir?

Hoje escrevo para ti. Sim, para ti que lês atentamente as coisas que eu escrevo, umas vezes fictícias, na sua maioria verídicas. Muitos desabafos, outros que nem sei em que categoria colocá-los. Talvez sejam só traços de uma insanidade ou então são meros desabafos de alguém que tu conheces demasiado bem, mas que publicamente dizes não existir, quando na verdade ele está aí, contigo.

Explica-me uma coisa; como é que consegues estar tão tranquilo com situações onde muitos temem e tremem, mas tens medo da rejeição? Ninguém te vai rejeitar...pelo menos num todo. Há sempre quem precise de ti em algum momento, mesmo que seja só para aquele momento. Tu tens o estranho dom de te fechares no teu mundo onde ninguém entra, porque te assusta tanto e tu tens tanto medo que temes ser humilhado por isso. Rejeitado e humilhado. Sabes quem era assim? O mesmo tipo que escreveu as palavras que encontras na foto acima. Eu sei que tu o conheces. Sei também que procuras o mesmo que ele, apesar de forma diferente. Procuras fixar-te, procuras criar a família perfeita, aquela que tu tens na cabeça e que queres desde pequeno. Coincidência ou não, tu e ele tinham a mesma idade quando começaram a idealizar a família perfeita, só que tu não viste os teus pais separarem-se como ele viu. Queres mais semelhanças? Vocês sempre quiseram a atenção toda, mas sempre fizeram por se afastar dessas atenções, só diferem num aspecto: é que ele conseguiu conquistar o mundo e tu não. Porque vocês os dois até têm a particularidade de serem geniais quando colocam o coração a funcionar com a criatividade. Podia continuar, mas é melhor parar por aqui. Afinal de contas, nem tu queres que tudo seja igual, certo?

Eu sei o teu valor e sei do que és capaz. Sei que estás limitado ao que te deixam fazer e não ao que tu és capaz de fazer. Tu deixas-te abater por isso, mas não devias. Sabes porquê? Porque o facto de tu batalhares por mudar e por fazer é o que lhes está a fazer confusão. É isso que faz com que te puxem para trás. Por muito que te doa, não desistas, porque não vale a pena. Parte para cima deles com todas as tuas forças. Eu sei bem do que és capaz, assim como eu sei que tens noção disso. Tens é um defeito muito grande, que é tentares agradar a toda a gente e tentares ser perfeito até no mais pequeno detalhe. Tens falhado. Não procures tentar ser perfeito. Procura apenas melhorar aquilo que és. Tu já viste como consegues chegar às pessoas com tanta facilidade, quando assim o queres? É isso e manteres-te fiel a ti próprio. Não achas que isso já é perfeito o suficiente? Não esperes pela minha opinião porque, sejamos sinceros, a tua opinião será também a minha opinião. Podemos sempre guardá-la para nós e deixar que os outros digam o que quiserem.

Mas não é por isso que te escrevo. Escrevo-te para te perguntar: não estás farto de querer o impossível? Não estás cansado de tudo aquilo que tu queres para ti, tudo aquilo que é perfeito para ti, simplesmente não te querer a ti? Eu sei que custa veres os outros fazerem o mesmo que tu e só tu seres vítima de um tratamento diferenciado dos outros. És diferente e sempre foste. Nada do que tu venhas a fazer irá fazer com que as coisas mudem. Essa tua forma ridícula de pensares que és capaz de ser aquilo que os outros querem é humilhante para ti própria. Tu, que odeias ser humilhado, humilhaste a ti próprio. E esse teu medo da rejeição? É ele que te faz ser rejeitado. Foste criado com valores, grandes valores, mas repara, tudo o que tu fazes é cuidar dos outros. Eles acomodam-se e depois passas a ser apenas isso mesmo: alguém que cuida dos outros. Vê o que já conquistaste. Vê as tuas relações. Perdeste tudo aquilo que quiseste cuidar com tanta atenção, com tanto carinho. Tu perdeste isso tudo e vais perder mais. Acredita em mim quando te digo que as batalhas que estás agora a combater, são batalhas que tu vais perder. Todas. Uma por uma. Vais perdê-las só para chegares a um nada. Eu sei que tu dizes para ti que os outros deviam saber que quando tu caíres, já tu viste todos caírem e eles nunca te verão a ti cair. Até acredito em ti. Acredito genuinamente que ninguém te verá cair. Ninguém te verá cair porque quando tu caíres já ninguém precisa de ti e passarás de "muito" a "nada". Acho que estás perto de atingir esse nada. Diz-me se valeu a pena cuidar dos outros como cuidas. Valeu? Não me parece, mas o que dizes tu?

No fundo, sei que tens esperança em conquistar essas batalhas. Uma esperança tão grande quanto a queda que tens pela frente. Deixa para trás. Segue a tua vida. Tu mereces ser tratado da mesma maneira que tratas os outros. Dás tudo de ti, mas ninguém dá um terço de si por ti. Segue em frente. O fim ainda está longe, apesar de pensares o contrário.

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