Wicked Games

O tempo voa, quase tão rápido como a ideia de que tudo vai ficar bem. É tão rápido que a pergunta não é "quanto tempo falta", mas sim "já passou tanto tempo?" e ali me prendo, fixo no pensamento de que não há outra forma de ver as coisas para lá do que elas são. As emoções, essas, guardo para o cliché "o importante não é o destino, mas a viagem em si". De facto, se fizermos um simples exercício de memória, reparamos que as viagens sempre foram mais interessantes que as coisas que fazemos nos nossos destinos. Relembro-me, por exemplo, de uma noite em que uma simples ida a pé, até umas bombas 24h para ir beber um café, demoraram mais do que os 15 minutos e tiveram momentos tão engraçados como memoráveis. Numa memória mais recente, lembro-me de que, há quatro anos atrás, esperava ter uma viagem pacífica pelo mundo da programação e que, estando agora num curso completamente diferente, dei por mim numa jornada que teve de tudo, mas em especial, momentos incríveis com pessoas incríveis. Nunca esperei, por exemplo, vir a dar-me com certas pessoas que, de uma forma ou de outra, acabaram por deixar a sua marca e, verdade seja dita, não podia ter imaginado melhores marcas do que aquelas, simples, mas verdadeiras. As melhores. Mas não é sobre isso que quero falar.

Um dos meus maiores defeitos, ou virtudes, é a capacidade que tenho de imaginar como seriam as coisas se fossem diferentes daquilo que são. Poucas são as pessoas com quem consigo pensar no "como seria", mas essas pessoas existem. Nos últimos 4 anos, essas pessoas foram apenas 3. É aqui que o meu pensamento bloqueia. Primeiro, porque nunca tive uma verdadeira hipótese, por um ou outro motivo, ou talvez pelo mesmo motivo de sempre. Segundo, porque no meio dessas hipóteses, a minha capacidade de colocar barreiras, inconscientemente conscientes, sempre me levou a desperdiçar boas oportunidades para alcançar a única coisa que sempre quis. Mesmo que não fossem "para sempre", seriam "para sempre naquele momento" e eu, que gosto de imaginar episódios da minha vida a longo prazo, gosto de viver o momento.

É aquele sentimento digno de uma comédia romântica que acabaria por ser sucesso num qualquer canal de televisão. Um misto de Ted Mosby (How I Met Your Mother) com Nick Miller (New Girl). Quero com isto dizer que conheci algumas raparigas dignas de terem o melhor de mim, mas o meu lado pateta, ridículo e, por vezes, acriançado, levaram-me a ficar no meio de dois mundos; ou não resulta ou sou o tipo que fica na friendzone. E se ninguém gosta de estar em nenhum desses lados, eu não sou excepção à regra. Imagino. Imagino como seria andar com A ou B pela mão, pelos dias de Outono mais frios, pelos actos espontâneos de fazer uma loucura como andar a colher flores e dar só pela espontaneidade do acto ou fazer um programa sem ter combinado o que quer que seja. Sentar-me no meu quarto a tocar piano mesmo sabendo que não o sei fazer. Escrever poesia e cartas de amor ridículas, mas que fazem sentido. Imaginar os momentos de nascer e pôr do sol, com ela, A ou B. Fazer promessas de viagens ou brincar com pedidos de casamento, como brincadeiras do momento. Aqueles momentos ridículos que parecem não ser nada.

Já imaginei isso tudo com algumas pessoas. Já fiz algumas dessas coisas, mas que valor tiveram elas? Que valor tiveram essas atitudes, essas brincadeiras, essas pequenas e insignificantes coisas? É que para mim, levaram-me a imaginar como seriam e em alguns casos apaixonei-me por esse imaginário. Só que a realidade é outra. A realidade é dura, é fria, é cruel. A realidade é que por muito apaixonante que seja esse imaginário, no final do dia vou continuar na mesma. Vou continuar a procurar pela rapariga que não me veja como o tipo "perfeito demais". Infelizmente "our time is running out"...


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