« Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias. »
Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Antologia Poética'
No dia em que se celebram 800 anos de existência da Língua Portuguesa e numa altura em que estamos muito próximos dos 10 anos da morte (2 de Julho) de uma das escritoras e poetas que eu tanto aprecio (facto curioso, todas as minhas professoras de Português adoravam Sophia de Mello Breyner Andresen), vejo-me forçado a escrever sobre esta língua da qual tanto orgulho sinto, mas que tantas e tantas vezes vejo ser mal-tratada.
É certo e sabido que, ao longo destes 800 anos, muitos têm sido os acordos ortográficos. Eu ainda sigo o antigo, pois um facto não é um fato e o acento circunflexo em "vêem" foi o que me ensinou a distinguir o verbo ver na terceira pessoa do plural para o verbo vir na mesma terceira pessoa. Espero que as minhas professoras de Português tenham orgulho em mim por isto, mas que me continuem a dar pela cabeça se assim o entenderem. Não concordo com certos aspectos (ou serão aspetos?), mas evolução é isto. Basta compararem um texto de Gil Vicente e Luís Vaz de Camões para perceberem isso. Não é suficiente? Comparem com Eça de Queirós e Fernando Pessoa. Ainda é insuficiente? Juntem Sophia de Mello Breyner Andresen ou Florbela Espanca. Porque não Miguel Torga? Juntem-nos a todos. Vejam a evolução.
Não escondo o facto de saber que recentemente houve uma homenagem a Sophia de Mello Breyner Andresen na Casa da Música do Porto. Um gesto bonito e merecido. Tenho pena de não ter ido nem ter sabido que isto iria acontecer. Mesmo sabendo, não poderia ir por questões de deslocação e alojamento.
Celebra-se assim os 800 anos da Língua Portuguesa. Assinala-se dentro de dias os 10 anos da morte de Sophia de Mello Breyner Andresen. Parabéns à Língua Portuguesa, a única que língua do mundo que sabe o que é ter saudade.
Com Fúria e Raiva
« Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras
Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada
De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse
Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra »
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"
Amália Rodrigues - Fado Português
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