110%

Disclaimer: qualquer semelhança pode não ser coincidência.

Há algum tempo que ando com estas palavras guardadas na minha cabeça. Não é nada de novo, mas ganhar coragem para as dizer ou escrever é uma batalha que ainda batalho neste momento. Porém, esperando conseguir chegar ao fim deste texto com tudo dito, espero trazer um pouco de sossego ao 'meu mundo'. São memórias, são reflexões, são pontos que procuro ligar na esperança que tudo faça sentido. Para mim ou para quem ler. Ao longo dos tempos, deparo-me com pessoas que dão demasiado, pessoas que não dão nada de si e pessoas que são espelhos na arte de dar de si aos outros, ou seja, que dão na mesma medida que recebem.

Um dia, dizia-me uma pessoa, que não conseguia confiar nos outros porque sempre deu tudo de si para não receber nada em troca ou para receber em maldade tudo o que dava em bem. E eu, na ilusão que tinha encontrado alguém que iria perceber aquilo que me vai na cabeça, respondi que sou dos que dá tudo, por vezes, mais do que eu próprio imaginava ser capaz. Entre conversas que se prolongavam noite fora, piadas com mais ou menos acerto, conversas mais profundas, palavras mais duras ou mais suaves, mostrava isso mesmo. Ouvia o que esse pessoa tinha a dizer, respondia-lhe e, no momento certo, fazia a coisa errada; fazia o paralelismo com a minha vida. No entanto, era nesse paralelismo que eu me expunha, que eu mostrava aquilo que eu era. Umas vezes mais negativo, noutras mais positivo. Era a minha vida que ali estava. Nos dias maus, naqueles dias em que queria estar isolado, bastava uma palavra para eu estar ali, de corpo e alma, para cada palavra que surgisse dessa pessoa. Eu podia afundar-me, mas tinha de estar ali para quem nunca tinha tido tudo de uma pessoa.

Talvez tenha sido esse o problema. Para alguém que estava habituada a dar tudo, essa pessoa recebeu tudo pela primeira vez. Essa pessoa viu um mundo a ser construído por alguém que vivia nas ruínas. Como é que era possível alguém construir um mundo, quando vive em ruínas? Aqui, penso eu, que será uma questão de coração. Não falo em questões sentimentalistas, mas sim de coração puro e duro, uma espécie de herói pela causa. Eu tinha de o fazer. Tinha de mostrar a essa pessoa que existem pessoas que dão tudo o que têm sem pedir nada em troca. Às vezes, dando tudo sabendo que nunca teria nada do outro lado. Mesmo quando me garantia que não, eu ia vendo como tudo se desenvolvia. Eu dava tudo o que tenho. Atitudes, uma palavra, um sorriso, uma pequena e insignificante coisa que poderia ter todo o significado do mundo. Porque, para o bem e para o mal, é isso que eu tenho para dar. Não posso dar nem viver uma vida de luxos quando não tenho como os ter. Fui assim educado...a valorizar o que conquisto e o pouco que tenho, como se fosse muito. Só que as circunstâncias da vida mudam tudo e talvez, só talvez, o objectivo, da vida e não meu, tenha sido o mesmo de sempre. Dar a experiência oposta ao que essas pessoas dizem que sempre tiveram do outro lado.

Talvez, só talvez, eu seja a pessoa que dá 110% a quem sempre deu 110% e nunca recebeu mais que uns míseros 50%. Um dia espero ouvir de todas essas pessoas, como é receber 110% e não dar mais que 75%. Gostava apenas de saber como é desse lado. Porque eu? Eu não consigo não dar tudo, a quem tudo merece de mim.

Nota de autor: como alguns dos textos que já aqui escrevi, mesmo que baseados e/ou motivados por situações reais, essas situações não são relevadas porque o objectivo dos textos não é expor pessoa A ou B. É apenas para uma mera reflexão minha e quem lê pode aplicá-la à sua própria realidade.

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