Puzzle

Eu gosto de puzzles. Gosto de ir montando os puzzles até chegar à imagem final. Não gosto é quando chego ao final do puzzle e começo a pensar no tempo que perdi de volta dele, com todo o cuidado. Faz-me sentir estúpido, porque eu já sabia qual seria o desfecho. Acho que me perco no desafio de o ver concluído, não mais que isso. Porém, a conclusão pode ser a pior parte. Pior que o início ou pior que encontrar a peça que falta ou que não encaixa. Não há uma explicação lógica para esta espécie de relação de amor-ódio entre eu e um bom puzzle. Quanto mais complicado, melhor. Mesmo que eu saiba de antemão que me faz mal. No entanto, acredito que nem todos os puzzles são assim tão maus. Para os outros. Eu ainda estou à procura do "meu" puzzle, daquele que me vai fazer sentir estúpido de uma outra forma, mas se há coisa que tenho visto, é que não há puzzle para mim.

Gosto, especialmente, de puzzles com caras. Caras que vou interpretando ao longo do tempo em que vou montando o puzzle. As informações contidas em cada pequena peça, revelam pequenos detalhes que, no final, são muito mais que um mero detalhe. São pequenos pontos de conexão entre os vários detalhes que, no final, constituem uma imagem que nos permite  apreciar, de uma forma diferente, toda a história de cada peça, de cada detalhe, da imagem final. É como saborear o momento, mas ver todo o enquadramento de uma nova perspectiva. É diferente, quase mágico. Não quero usar o termo "eureka". Não é nenhuma descoberta, é apenas todo o sentido que as coisas ganham.

Claro, pelo caminho, há sempre aquelas peças que, por um qualquer meio mágico e inexplicável, desaparece. E ali fica o puzzle por acabar, enquanto procuro pelas peças em falta, quase desesperadamente. Até que um dia me canso de procurar e começo a procurar outras actividades para me entreter e do nada, lá aparece uma das peças desaparecidas. Depois outra e outra. E assim sucessivamente até que todas as peças voltam a estar ali, prontas a encaixarem no puzzle. Claro, há peças que não encontro tão facilmente porque estão mesmo ali à frente dos meus olhos e eu não as vejo. Um pouco como aquela pessoa que procura os óculos que tem na cara. Está ali, mesmo à minha frente e eu não a vejo. Até ao dia em que encontro a peça e acabo a montar o puzzle. E volta tudo ao início. Eu, a sentir-me estúpido, por ter perdido o meu tempo com um mero puzzle que eu já sabia como ia acabar.

O problema dos puzzles, é que eles pensam que sou estúpido quando, na verdade, só me faço passar por parvo.

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